quinta-feira, janeiro 13, 2005



2046 é inevitavelmente a sequência lógica de “In the mood for love”, a continuação de um amor maior que a própria vida, mas entregue aos desígnios da memória.
A história compõe-se das recordações do escritor Chow Mo Wan, das mulheres que passam na sua vida, da sua ânsia de fazer delas, a mulher que perdeu. Porque tudo na vida é passageiro, tal como ele diz: “de nada vale encontrar a pessoa certa, se for antes ou depois da altura certa”.
Retrata muito bem a solidão entre uma multidão de pessoas sós... a cabeça de um homem tão rodeado de mulheres, mas no fundo, incrivelmente só...
O estilo de realização de Wong Kar Wai interliga-se completamente com a história: a beleza e a delicadeza das imagens, das cores, o pormenor de cada plano, os movimentos lentos, a fotografia impressionante e uma banda sonora brutal que vão perdurar eternamente na nossa mente tal como as memórias do passado.
As interpretações são todas excelentes, as personagens reflectem estados de alma com um simples olhar, é uma experiência melancólica e devassadora - tal como o amor que não se define com contos encantados e finais felizes, e muitas vezes deixa cicatrizes profundas no nosso coração.
Na minha opinião não é um filme de grandes admiradores talvez pelo modo como nos é transmitida a história, a um ritmo lento, onde tudo é pensado ao mínimo pormenor, onde nada é por acaso.
Para ser apreciado ao máximo é necessário ter-se uma adoração pelo estilo do realizador, fazer uma ligação directa ao mais profundo recanto das emoções é algo muito complicado, mas Wong Kar Wai não é um mero realizador.
Para mim proporcionou o mais fundamental dos requesitos cinematográficos, um grafismo soberbo! 2046 é uma viagem gráfica fascinante!